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"Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes." (Fernando Pessoa)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

“O que era amor se transforma em exigência de sucesso material e segurança previdenciária.” (Luiz Felipe Pondé)



Muitas vezes apenas gostaríamos de dizer “não”. Coisa difícil dizer “não”, porque o “sim” é civilizado na sua condição de hipocrisia necessária para a vida em grupo. Não dizer bom-dia, não dizer que gostou, não dizer que quer ir, não dizer que ama, dizer apenas “não”. Na ordem capitalista em que vivemos, onde tudo circula na velocidade do vento que nos constitui como miserável mercadoria que somos, o “não” aparentemente vende mal.

[...] Outro problema é que umas das maiores contradições da vida é que o cotidiano das relações quase sempre inviabiliza afetos espontâneos e nos arremessa a convivência estratégica que apenas “lida” com problemas. Em resumo, quase sempre os membros da nossa família não são nossos melhores amigos e não é gente em que podemos confiar nossos desesperos porque sempre esperam de nós soluções para as demandas do dia a dia. Maridos, esposas, filhos, irmãos, pais, quase sempre não servem para ouvir nossos segredos, mas apenas servem para constatar nossas misérias secretas.

[...] Quem diz que a solução do homem é política é sempre um mau caráter que gosta de política. Seja na universidade, seja em Brasília. A vida é uma prisão e não gosto de rotas de fuga falsas.

No fundo, sou mais “anos 60″ do que aqueles que dizem ser “anos 60″, mas que viraram “ambientalista de terno e gravata”, “defensores da qualidade de vida” ou “roqueiros que cantam para as crianças da África”. Para mim vale sempre uma regra básica: não confio em nada em que departamentos de recursos humanos confiam. Nutro profunda simpatia por dois pensadores utópicos, Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, ambos do século 19, representantes do movimento libertário americano.

Há uma dor característica causada por sorrisos falsos. Os músculos da face doem por conta do sorriso mentiroso, que é sempre o mais comum em nosso cotidiano, dizia Emerson, autor de “Self-Reliance” (“Autoconfiança”), de 1841, um clássico do movimento libertário.

[...] Hoje o pensamento público tornou-se monótono porque todo mundo quer agradar e salvar o mundo. Eu não quero salvar ninguém, nem aspiro a um mundo melhor. Como dizia Emerson, existem grandes vantagens em sermos mal compreendidos (“misunderstood”).

A mania de sermos completamente compreendidos nada mais é do que o desejo de agradar a todos o tempo todo, uma das pragas típicas de um mundo marcado pelo marketing de tudo [...].

Texto de Luiz Felipe Pondé

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